terça-feira, 3 de agosto de 2010

A missão de Cristo da Igreja e do Papa





Esta oração foi recitada por Santa Catarina de Sena em Avinhão, no dia 14 de agosto de 1376. Na ocasião, como embaixatriz de Florença, procurou obter do papa Gregório XI (1370 – 1378) o perdão para o interdito decretado contra aquela cidade. Também aconselhou ao papa que voltasse para Roma e procurou incentivar a realização de uma Cruzada para unir os príncipes cristãos da Europa.

Criação queda e redenção do homem

Ó Deidade, Deidade, inefável Deidade! Ó bondade suprema! Unicamente por amor, nos fizestes à tua imagem e semelhança. Ao criar o homem, não disseste “Faça-se”, como ocorrera com as demais criaturas, mas”Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn1,26) para que, Amor inefável, toda a Trindade concordasse. A memória é figura de Ti, Pai eterno: como reténs e conservas todas as coisas, deste a memória ao homem, a fim de que ele retivesse e conservasse tudo aquilo que a inteligência vê, entende e conhece da tua bondade infinita; com isso o homem participa da sabedoria do teu Filho unigênito. Deste ao homem a vontade, como figura da clemência do Espírito Santo; qual mão poderosa do teu amor, ela se ergue para apanhar tudo quanto a inteligência conhece do teu Ser inefável, Assim, estando a vontade cheia do teu amor, o mesmo acontece com a memória. Gratidão, gratidão a Ti, excelsa e eterna Deidade, pelo amor revelado ao concederes tal semelhança à alma: inteligência para conhecer, memória para reter e conservar, vontade para possuir-Te acima de tudo. Ó bondade infinita, como é racional que, ao Te conhecer, o homem Te ame. Ame com um amor tão vigoroso, que demônio ou criatura alguma possa destruir, sem o consentimento da vontade. E envergonhe-se a pessoa que, conhecendo teu amor, não Te ama.

Ó Deidade eterna, amor sem preço! Após cairmos no horror do pecado, quando nosso pai Adão, por maldade e fraqueza Te desobedeceu, Tu, ó Pai, com amor e compaixão olhaste para nós, míseros infelizes, e enviaste o teu Filho unigênito, Palavra encarnada e revestida de nossa condição mortal.

E Tu, Jesus, nosso reconciliador, restaurador e redentor, Te tornaste mediador, palavra e amor. Da grande guerra, que o homem mantinha contra o Pai, fizeste uma imensa paz. Puniste em teu corpo nossa maldade e a desobediência de Adão, fazendo-Te obediente até a vergonhosa morte na cruz. Bondoso e amoroso Jesus! Com um único golpe deste reparação à injúria feita ao Pai e ao nosso pecado, pois tomaste sobre Ti a vingança da ofensa ao Pai.

Pequei, Senhor, tem compaixão de mim!

Louvores a Jesus Cristo e a Deus Pai

Para qualquer lado me volte, só encontro um grande amor. Impossível achar desculpas para não amar porque Tu, Homem-Deus, me amaste antes que eu Te amasse. Eu não existia, e me criaste. Em Ti encontro tudo quanto desejo. Tudo encontro em Ti, menos o pecado. Sendo uma privação, o pecado não existe em Ti, nem é digno de ser amado. Se desejamos amar a Deus, em Ti achamos a inefável Deidade; se queremos amar o homem, és o homem posso conhecer a Pureza sem preço. Se desejo amar um senhor, és o Senhor e com teu sangue pagaste o preço da nossa escravidão ao pecado.

Ó Deus eterno, por tua bondade e imenso amor és nosso Senhor, Pai e irmão. O Verbo, teu Filho, conhecendo e cumprindo tua vontade, queis derramar seu sangue no salutífero madeiro da cruz em favor da nossa miséria.

Ó Deidade, és a suprema sabedoria; e eu, uma criatura ignorante e pobre; és a suprema e eterna bondade; eu sou a morte, Tu a vida; eu as trevas, Tu a luz; eu a tolice, Tua a sabedoria; Tu o infinito, eu o finito; eu a enferma, Tu o médico; eu, uma frágil pecadora, que jamais Te amou; és a beleza puríssima, eu uma sujíssima criatura. Por inefável amor, Tu me fizeste sair de Ti. Por gratuidade, sem nenhum merecimento. Tu nos atrais sob a condição de que nos deixemos atrair, isto é, que nossa vontade não se oponha à tua.

Ai de mim! Pequei, Senhor, tem compaixão de mim!

Súplica pela Igreja, pelo Papa e oferta como vítima

Ó bondade eterna, não olhes para as misérias, que culposamente cometemos, quando nossas almas se afastam de Ti, que és o nosso Fim. Eu Te peço: por tua infinita misericórdia, olha com clemência e compaixão para tua Esposa (a Igreja). Ilumina o teu Representante (o Papa); que ele não Te ame por causa de si, nem se ame por interesses pessoais. Que Te ame por tua causa; por tua causa se ame. Pois quando ele Te ama e se ama por interesses pessoais, nós perecemos. Nele está a nossa vida. E também a nossa morte, quando não se preocupa em defender as ovelhas que perecem. Se teu Representante amar a si mesmo e Te amar por tua causa, viveremos. Do pastor recebemos o exemplo de vida. Ó Deidade suprema e inefável! Pequei e não sou digna de orar diante de Ti. Mas Tu és poderoso para tornar me digna. Senhor, meu Deus! Castiga, pois, os meus pecados e não leves em consideração minha miséria. Possuo um corpo, que Te dou e ofereço. Eis a carne, eis o sangue. Se for da tua vontade, sejam meus ossos dessangrados, destruídos e separados em prol daqueles pelos quais imploro. Tritura os ossos e sua medula em favor do teu Representante, único esposo da tua Igreja. Por ela, peço que me escutes. Que teu Representante leve em consideração tua vontade, que a ame, a cumpra, a fim de que não pereçamos. Dá-lhe um coração novo, que continuamente cresça na graça. Um coração forte, capaz de empunhar o estandarte da cruz (na Cruzada), para fazer os infiéis (sarracenos) participar dos frutos da Paixaã e do Sangue do teu Filho, Cordeiro sem mancha, Deidade altíssima e inefável.




Pequei, Senhor, tem compaixão de mim!

Tirado do Livro – As orações de Santa Catarina de Sena – Editora Paulus


Santa Catarina de Sena obteve a resposta do próprio Jesus, conforme relata Frei Raimundo de Cápua.

Seria fácil iluminar tua alma por meio de uma inspiração que te permitisse distinguir uma visão de outra. Mas, para o governo teu e dos outros, quero que saibas ser verdadeiro aquilo que ensino os doutores que instruí. Minha visão, no início amedronta, mas, depois da segurança; começa com certa amargura que aos poucos se transforma em amargura. Com a visão do inimigo acontece exatamente o contrário: No início, parece proporcionar certo prazer: parece verossímil e é atraente; mas, depois, insufla no espírito de quem a recebe uma impressão de sofrimento e de nausea. Assim é porque nossos caminhos são bem diversos. Na verdade o caminho da penitência e de meus mandamentos parece aspero e penoso, mas, quanto mais se avança mais ele se torna doce e fácil, por outro lado o caminho do vicio é, no começo, delicioso, mas torna-se cada vez mais amargo e perigoso.

Mas quero dar-te um sinal verdadeiramente infalivel e seguro. Tem por certo que, como sou a Verdade, minhas visões devem sempre produzir como alimento para alma um maior conhecimento da verdade. O conhecimento da verdade, no que me diz respeito e no que diz respeito a verdade em si mesma, é indispensável a alma [...]. Nas visões do inimigo acontece exatamente o contrário. Como ele é o pai da mentira e rei de todos os filhos do orgulho, e como não pode dar mais do que tem, suas visões sempre engendram na alma certo amor próprio e certa autosatisfação de que consiste precisamente o orgulho, assim ao te examinares a ti mesmo com cuidado, poderás reconhecer de onde vem tua visão, se da verdade ou da mentira, pois a verdade torna a alma humilde e a mentira a torna orgulhosa.

Do livro Catarina de Sena – De Bernard Sesé

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