terça-feira, 3 de agosto de 2010
AUXÍLIOS DIVINOS PARA A REFORMA DA IGREJA (VII – A fortaleza da alma)
AUXÍLIOS DIVINOS PARA A REFORMA DA IGREJA (VII – A fortaleza da alma)
1. Mil auxílios da Providência
Confesso, Deus eterno; confesso, eterno Deus, alta e eterna Trindade (1). Tu me olhas e conheces! Entendi isso na tua luz. Confesso, eterno Deus: sei quais são as necessidades da tua dulcíssima Esposa, a Igreja; conheço a boa vontade do teu Representante (2). Mas quem o impede de realizá-la? Vi na tua luz que conheces tudo isso, pois nada está oculto ao teu olhar.
Na tua luz eu vejo que providenciaste a medicina para a Humanidade morta, no Verbo, teu Filho unigênito. Outro medicamento, que providenciaste para tal morto, foi conservar as cicatrizes no corpo (ressuscitado) de Cristo, para que implorassem misericórdia junto de Ti. Na tua luz eu vi que as conservastes num arroubo de amor. Tanto as cicatrizes como a cor do sangue continuam sem contradição no seu corpo.
Em Ti mesmo viste que, após a cura da enfermidade (humana), os homens iriam continuar a cair diariamente nos seus pecados. Por isso, deixaste o sacramento da Penitência. Nele, o sacerdote derrama o sangue do Cordeiro na face da alma.
Puseste o Filho como principal medicina para reconciliar-nos contigo e ainda esses outros meios, necessários para a salvação. Na tua luz, eu sei que conhecestes tudo isso com antecedência. Em tal luz eu vejo; sem ela, andaria nas trevas.
Amor dulcíssimo! Viste as necessidades da santa Igreja e o medicamento de que precisava. Para isso providenciaste a oração dos teus servidores. Queres que eles construam um muro, no qual se apóiem as paredes da santa Igreja, e neles a clemência do Espírito Santo acende inflamados desejos de reforma.
Viste (no homem decaído) a lei perversa, sempre pronta a rebelar-se contra a tua vontade. Sabias que muitos de nós iríamos seguir. Conheces a fraqueza da nossa natureza, quanto ela é débil, frágil, mísera. Por isso, ó Provedor dos homens, providenciaste o remédio, dando-nos o rochedo fortificado da vontade. A fraqueza da carne nos acompanha, mas a vontade é tão firme que demônio ou criatura alguma é capaz de vencê-la, contra nosso querer, isto é, sem o consentimento do livre-arbítrio, que defende aquela fortaleza.
Donde provém, Bondade infinita, essa firmeza da vontade? De Ti que és a suprema e eterna força. Vejo que nossa vontade participa da fortaleza da tua vontade, pois dela procede. Nossa vontade tanto é firme quanto segue a tua; tanto é fraca quanto dela se afasta. Tua vontade criou a nossa; permanecendo unida à tua, nossa vontade é firme.
Tudo isso eu vi na tua luz! Ó Pai eterno, em nossa vontade revelas a firmeza da tua; mas se tornaste forte uma realidade tão pequenina, quão grande pensaremos tua vontade, pois és o Criador e Regedor de todas as coisas.
Outra coisa vejo na tua luz: parece-me que a vontade, que recebemos de Ti livre, é fortalecida pela iluminação da fé, na qual conhecemos teu querer eterno, que nada mais deseja que a nossa santificação. Conforme aumenta a iluminação, firma-se a vontade na prática das ações. Seja a vontade reta, como a fé viva, não podem ficar sem as obras. A iluminação da fé nutre e dá crescimento à chama (do amor) na alma. Esta nunca experimentaria o fogo do teu amor se a fé não lhe revelasse teu amor e estima por nós. Ó luz da fé! Tu és a lenha que incendeia o amor da alma. Como a lenha faz crescer a chama natural, tu aumentas a caridade no homem. Revelas a ele a bondade divina e o amor da alma aumenta, pelo desej ode conhecer a Deus, anseio que ajudas a realizar.
Provedor boníssimo! Não quisestes que o homem vivesse nas trevas e na guerra; deste-lhe, então, a luz da fé. Ela nos indica o caminho e nos dá paz e quietude. A fé não deixa a alma morrer de fome, viver nua e pobre. Pelo contrário, alimenta-a com a graça, faz saborear no amor o Alimento (eucarístico), veste-a com a roupa nupcial da caridade e do teu querer, revela-lhe os tesouros eternos.
Pequei, Senhor, tem compaixão de mim! As trevas da lei perverssa, que sempre segui, ofuscou minha inteligência. Por isso não Te conheci, ó verdadeira luz! Mas mesmo assim, agradou à tua caridade iluminar-me.
2. Súplica pelo papa e pelos discípulos
Ó Deus eterno, Amor sem preço! Pela criação, estás mutuamente amalgamado com o homem pela força da vontade, pela chama (de amor) com que o criaste, pela iluminação natural que lhe deste. Mediante eal iluminação, o homem Te conhece e age desejoso das virtudes reais e verdadeiras, para a glória e louvor do teu nome. Tu és aquele que é; os demais seres, deixando de lado o que lhes deste, nada são.
Ó minha alma, cega, mísera! És indigna de formar com os demais servidores de Deus um muro para sustentar a santa Igreja. Mereces estar no estômago de um animal, pois tuas ações foram sempre animalescas.
Deus eterno! Agradeço-Te, agradeço-Te, agradeço-Te porque me escolheste para tal trabalho, não obstante minhas iniquidades. Suplico, então: já que pões na mente dos teus servidores anseios e inflamados desejos de reformar tua Esposa, e os levas a clamar em contínua oração, escuta seu clamor. Conserva e aperfeiçoa a boa vontade do teu Representante. Seja ele perfeito, na medida que lhe pedes. O mesmo eu peço para todos os homens. De modo especial para aqueles que colocaste sobre os meus ombros. Fraca e incapaz, eu os entrego a Ti. Não quero que meus pecados os prejudiquem, pois sempre segui a perversa lei. Desejo e rogo que eles Te sigam na perfeição; mereçam ser atendidos nas preces que fazem, e devem fazer, pelo mundo inteiro e pela santa Igreja.
Pequei Senhor, tem compaixão de mim!
(1) Catarina recitou esta oração no dia 20 de fevereiro de 1379
(2) O papa Urbano VI
As orações – Santa Catarina de Sena – Editora Paulus
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