terça-feira, 23 de agosto de 2011

O CRUCIFIXO DO HAITI




O CRUCIFIXO DO HAITI
Acabo de ver a imagem do
Crucifixo da Igreja Sacre Coeur du
Tugeau, no Haiti, exibida pelo Fantástico,
programa da Rede Globo. O templo
sagrado desabou e restou aquele
Crucifixo, quase intacto, grande, erguido,
exposto aos olhares que banham de
lágrimas as noites haitianas. As pessoas
param em frente a ele, choram e rezam.
Esta imagem provoca o ser
pensante. Por que foi assim? Por que
aquele Crucifixo resistiu ao equivalente a
30 bombas nucleares como a de
Hiroshima? E Cristo ficou ali. Parece ser
aquela Sexta-Feira Santa, em Jerusalém, no alto do Calvário.
Pus-me a pensar e contemplar a chocante cena. Abri as Sagradas Escrituras e pus-me a ouvir
o Senhor. O Filho do Homem permaneceu naquele lugar, representado pela imagem, para dizer aos
sofredores haitianos que eles não estão sozinhos. Jesus Cristo está crucificado com eles e eles com
Cristo. “Suas dores são minhas dores; suas lágrimas são minhas lágrimas; seu sangue é o meu
sangue. Estou na cruz despido, como vocês que agora se encontram despidos de tantos bens.” Como
disse o Profeta Isaías: “a verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele
mesmo, nossas dores” (Is 53,4).
Os braços do Filho de Deus permaneceram abertos em Porto Príncipe para acolher o clamor
de homens e mulheres transpassados pela lança da destruição, da fome, da sede, da perda de
esperanças. O lado aberto do Cordeiro de Deus ficou ali, às margens da rua destruída, para dar
descanso e consolo aos que ainda gritam por socorro debaixo dos escombros de uma cidade cujo
concreto tombou sobre vidas cheias de sonhos. “Vinde a mim todos vós que estais cansados e
fatigados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). O Crucificado resistiu
às forças cósmicas para dar refúgio e abrigo aos que vagueiam pelas ruas sem destino.
O Crucifixo do Haiti foi mais forte que o terremoto para manter viva na mente e coração dos
que por aquela rua passarem a boa notícia: “prova de amor maior não há, que doar a vida pelo
irmão” (Jo 15,13). Ali ficou uma imagem sagrada feita de matéria, porém, ao seu lado, ficaram os
corpos de homens e mulheres, que viveram até o fim o Mandamento Novo. Eles foram imagens
vivas do Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas. Trata-se da Dra. Zilda Arns e quinze
sacerdotes presentes naquela igreja no momento da tragédia. Eles estavam juntos porque queriam
amar intensamente as crianças daquela nação que esperavam por vida e vida em abundância.
O Crucifixo do Haiti permanece erguido e o Espírito de Deus fala aos corações das pessoas
de bem que salvam aquela sofrida gente. “Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava
com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me
vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; ... Todas as vezes que fizestes isso a um dos
menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25, 35-36.40).
O Crucificado ressuscitou e enviou do Pai o Espírito Santo renovando todas as coisas. Ele
ficou naquela destruída rua para dizer: “Coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33). Em meio ao caos
da maior tragédia enfrentada pela ONU, há esperança, a luz dissipa as trevas em cada pessoa
resgatada com vida, e em cada criança amparada. E o brilho volta a resplandecer nos olhos que
agora choram os mortos. É a força criativa e reconstrutora do Amor estampada no Crucificado do
Haiti.
Padre Francisco Agamenilton Damascena
Vice-reitor do Seminário Diocesano São José

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